quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

Com a morte do meu pai, eu conheci as piores dores da vida.

A primeira delas e a mais dolorosa é a dor da saudade, da ausêncisa...
No meu caso, não é apenas a presença física que me faz falta. Meu pai era meu "comandante", era  meu braço direito e esquerdo, minhas pernas e meu cérebro, e  com ele por perto eu sabia que não tinha problema no mundo que não tivesse saída...
Eu não tinha medo de nada! Aliás, só existia um medo: o de perdê-lo para sempre...

Às vezes, pessoas não entendem como ainda não "parei com isso""! Afinal, depois de 1 ano e 5 meses e ainda estou na mesma ladainha...
"Não foi ontem!!!" / "Foi há 1 ano e 5 meses!!!" / "A vida continua!!!" / "O mundo não para!!!" /"Está na hora de dar a volta por cima!!!" / "Tanta gente querendo viver!!!"/  "Tanta gente querendo ter a vida que você tem!!!" ... e eu aqui no meu mundinho, estática, chata, repetitiva como se tivesse sido ontem...


Acontece, que essa não é uma questão de escolha!
Não existe, em mim, um botão que me permita escolher como vou passar meu dia. "Hj acordei querendo ser feliz!"
... DEFINITIVAMENTE, isso NÃO é uma questão escolha!!!

Eu posso sim, acordar determinada querer sentir isso ou aquilo... é possível  sim, desejar não querer sentir determinadas sensações, mas não se pode mandar nos sentimentos....

Só EU e mais NINGUÉM sabe "no" que me transformei depois da partida dele e como tem sido minha vida desde então... 
Minha luta é DIÁRIA e por SOBREVIVÊNCIA!!!  (SOBREVIVÊNCIA NÃO É UM VIDA NORMAL, ESTOU MUITO LONGE DISSO!!!)

Se querem saber, além da falta dele, também carrego esse peso. Me sinto culpada por isso e muito!
Não é nada agradável saber que pessoas lutam em hospitais para viver e eu no meu mundinho, tão egoísta!

Além disso, estar perdido, sem saber o que fazer, por onde começar ou recomeçar e sentindo-se sozinho num mundo cheio de gente e principalmente quando na verdade você está rodeado de gente que te ama, quer te ajudar,  pessoas que demonstram afeto, carinho e amor, é DEPRIMENTE!!!

E acreditem! Todo esse "egoísmo", é apenas mais um peso de ingratidão a carregar...
Uma mistura de incompetência e frustração por simplesmente não conseguir ser o que elas tanto gostariam que você fosse e tanto tem lutado para que você seja...
Ver as pessoas ali, todo tempo ao seu lado, lutando por você, comprando todas as suas ideias na esperança de que, finalmente, você consiga sair "da bolha", e nada acontece...é vergonhoso e humilhante!!!

E para finalizar, também conheci a mais dolorosa dor, depois da perda dele, a dor da culpa de atrapalhar a vida de alguém. A dor de ser um peso... a sensação de estar puxando alguém para baixo junto com você. A sensação de estar impedindo alguém de ser feliz... NOSSA, essa é a pior das culpas! E por mais que a pessoa diga que não é verdade, você no fundo sabe que é verdade!

Essas são as consequências que a morte do meu pai acarretou.
Estou dividindo isso, pois não suporto mais ter que fingir que estou bem, quando está tudo péssimo. Eu não quero mais me sentir culpada por estar sentindo a morte do meu pai do meu jeito. Só eu sei quem eu perdi! Só eu sei a lacuna que ele deixou na minha vida...
Eu não quero mais me sentir culpada por essa sensação de total apatia em relação à vida, simplesmente porque não escolhi sentir-me assim! ESTOU ASSIM!!! Já é doloroso demais conviver com isso tudo e ainda ter que viver de aparências...

De tudo isso, hoje, se eu pudesse fazer uma escolha, uma única escolha, não era ser feliz novamente. A minha única preocupação é com quem está ao meu redor...
Queria muito poder encarar as pessoas de cabeça erguida, sem essa vergonha que sinto...
Sem toda essa culpa e o peso da responsabilidade de estar preocupando cada uma delas...


Como disse Caetano: "...cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..."



Sigo lutando... por ele!



Andréa

Encerrando Ciclos...

"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..

E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"



(Fernando Pessoa)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Troque...

"Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o. Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore. Esteja, entregue- se!" (Martha Medeiros)

As torres de dentro...

"Não tenho como escapar: um ano após os atentados, vou falar sobre o quê? Sobre o Red Hot Chili Peppers? A imprensa às vezes vira refém de certas datas. Tal qual a gente. Comemoramos secretamente o aniversário do primeiro beijo, da primeira transa, de todas as primeiras coisas bacanas que nos aconteceram. E das ruins também, das vezes em que as torres que construímos dentro de nós foram derrubadas. Cada sonho nosso foi construído andar por andar, e teve vezes em que ultrapassamos as nuvens, erguemos nossos prédios do milênio, mais altos que qualquer prédio de Cingapura, Shangai, Nova York. A psicanálise fala em castelos. É mais ou menos isso: sonhos aparentemente concretos. Já tive torres internas que foram ao chão. Torres altas demais para mim, torres que nem chegaram a ficar concluídas (as de dentro nunca se concluem), torres que me exigiram esforço e que me deram prazer, até que alguém, com uma frase, ou com um gesto, as fez virem abaixo. Tinha gente dentro, tinha eu. Torres são visíveis, monumentais: viram alvo. Um projeto empolgante demais, uma paixão incontrolável demais, um desejo ardente demais, idéias ameaçadoras demais: tudo isso sai da linha plana da existência, coloca-nos em evidência, a gente acha que os outros não percebem, mas percebem, e que ninguém se assusta, mas se assustam. Quem nos derruba? A nossa vulnerabilidade. Tem gente que perde um grande amor. Perde mais de um, até. E perde filhos, pais e irmãos. Tem gente que perde a chance de mudar de vida. E há os que perdem tempo. Os anos passam cada vez mais corridos, os aniversários se repetem. Tem gente que viu sua empresa desmoronar, sua saúde ruir, seu casamento ser atingido em cheio por um petardo altamente explosivo. Tem gente que achava que iria ter a chance de estudar mais tarde e não estudou. E tem os que acharam que iriam ganhar uma medalha por bom comportamento e não receberam nem um tapinha nas costas. E no entanto ainda estamos de pé, porque não ficamos apenas contando os meses e os anos em que tudo se passou. Construímos outras torres no lugar. Não ficamos velando eternamente os atentados contra nossa pureza original. As novas torres que erguemos dentro serão sempre homenagens póstumas às nossas pequenas mortes e uma prova de confiança em nossas futuras glórias. (Martha Medeiros)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

...

“A experiência do luto é poderosa. Assim também é a sua capacidade para ajudar a curar a si mesmo.
Ao viver o processo do luto, a pessoa está se movendo em direção
a um renovado senso de significado e propósito em sua vida.”

(Wolfelt)